Lasciate ogni speranza voi que entrate.

Lasciate ogni speranza voi ch'entrate.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mentira

"Minto. Minto. Aliás, mente-se sempre, mesmo quando não se tem nenhuma intenção. Mente-se, mente-se o tempo todo e, que me desculpem a filosofia barata, a vida é uma mentira impenitente, renitente e resistente, e o único problema filosófico de fato é o suicídio. Estou pernóstica hoje, mas não minto sobre isso, ao contrário de praticamente todo mundo. The world is but a stage, não é assim que está no Hamlet? The world is but a stage, e eu, que não me considero melhor do que ninguém – mentira, mentira, me considero, claro que me considero, vamos ser democratas mas não vamos achar que todos mundo é igualmente dotado, porque não é..."

(...)

"Minto, mente-se, eu minto, tu mentes, ele mente, nós mentimos, vós mentis, eles mentem. Sempre tive problemas com a mentira, mas também sou mentirosa, não há como escapar, all the world etc. Quantas mentiras, embora a maior parte, felizmente, apenas interpretativa, já não contei aqui e vou continuar a contar? Vão à merda, vocês todos mentirosos, mentirosos, a esmagadora maioria hipócrita e santarrona. Viva nós, os mentirosos à força, os conscientes."

A Casa Dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Gabrielle

Gente diferente

"Ela topava com muito espírito esportivo, mas acho que preferia ler e jogar a sexo, era uma coisa que, quando ela fazia, divertia-se razoavelmente, mas, quando não faiza, parecia não sentir falta. Caso mais comum do que se pensa, é algum aleijão ainda não adequadamente estudado. A moderação sempre me intrigou, não consigo compreendê-la direito e tenho um certo medo dessas pessoas deliberadas e pausadas, que pensam no que lentamente falam e fazem sempre o que devem fazer o que devem fazer, nos limites que querem observar. Só consigo ser desabrida e só me dou efetivamente bem com os desabridos, seja como pessoas, seja como artistas ou pensadores."

(...)

"... ninguém me venha com essa história, muito citada por aí e até sacramentada em pesquisas pseudocientíficas, de que pau pequeno não faz diferença, claro que faz, um pau bem dimensionado preenche apropriamente a mulher e é um visual estimulante e excitante, nada desse negócio de pau pequeno. Isto é uma das muitas balelas que nos forçam pela goela abaixo. As únicas mulheres que apreciam pau pequeno são as que, de uma forma ou de outra, tem medo de pau, seja porque sentem dor, seja porque são ruins da cabeça. A mesma coisa é pau mole. Claro, são os homens que espalham histórias terríveis sobre o que os outros, nunca eles, ouviram de mulheres com quem broxaram. As mulheres, de fato, não costumam esculhambar os homens com quem broxam com elas, são invariavelmente compreensivas e até solidárias tanto quanto podem ser, e algumas chegam a se culpar pelo malogro. Mas mulher plenamente sadia gosta de pau duro e gosta de penetração. O resto é conversa de consolação, que até convém a algumas, que com isso ocultam o que lhes interessa ocultar. Escreva-se: a) nenhuma mulher gosta de pau mole; b) excetuadas dimensões aberrantes e as outras variáveis sendo equivalentes, o pau maior e mais vistoso é preferido. Evidente que o principal, principalíssimo, é quem é o proprietário do pau. Mas aí, se é pequeno, a mulher apenas deixa para lá, embora preferisse que fosse maiorzinho; é mais satisfatório, por alguma, ou várias, razões. Esta é que é a realidade, o resto, repito, é onda e pensamento voluntarista."


Casa Dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Gabrielle

Libertar as palavras

"Ridículo, patético, mas inelutável, as palavras são de fato um mistério, um dia eu escrevo um livro louco, só quero escrever um livro louco, em que as palavras possam detonar, explodir em todos os tipos de significados, provocar todo tipo de reação. Eu queria libertar todas as palavras, eu sei que isso parece veadagem de poetastro juvenil, mas que é que eu posso fazer, é o que eu sinto, eu queria libertar as palavras."

A Casa Dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Gabrielle

Pittigrilli x honra

"Pittigrilli, um escritor que hoje ninguém lê, mas andava em voga e de que as moçoilas não podiam nem chegar perto, mas cujos livros davam sopa na biblioteca de meu pai e na do de Norminha – mais um ponto para minha família, nossas famílias, aliás –, dizia mais ou menos que, em vez de se preocuparem tanto com a integridade dessa honra, melhor fariam as mulheres italianas em lavá-la, com água mesmo e não com sangue, pelo menos uma vez por dia. E, de fato, é triste, acho que como ele próprio ainda disse, viver numa sociedade em que a honra feminina é portada entre as pernas, que coisa mais besta, meu Deus do céu."

A Casa Dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Gabrielle

Talento nato!

"... e eu nunca tinha visto nada, nem ninguém tinha de fato me ensinado nada, a não ser em conversas doidas. (...) Suponho que devo ter um certo orgulho disso, devo reconhecer sem modéstia que sou um talento nato, uma predestinada, uma escolhida dos deuses, só pode ser algo assim. Não gosto de falar desta maneira, mas não há como escapar, existe alguma coisa de inexplicável nisso, tenho de crer que nasci sabendo, de certa forma. De certa forma não, eu nasci sabendo. Só pode ser, não me pergunte como. Eu nasci sabendo."

(...)

"Era crucial ser uma navegadora hábil, nesse mar de babaquice, cheio de armadilhas inesperadas. Mas eu sempre tive um faro superior, uma capacidade de percepção mais aguçada que o comum, talvez. Talento, por que não?"

A Casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Gabrielle

domingo, 12 de setembro de 2010

Pra rir?

Eu, conversando com Gabrielle em uma dessas madrugadas, externei meu desejo de ligar pro alemão e pro holandês (nem adianta especular, não darei mais detalhes, rá!), mas logo mudei o meu discurso.

Penélope:
- Não vou ligar pra nenhum dos dois. Não vou ficar procurando situações. Preciso me concentrar no que realmente importa na minha vida, sabe?

Gabrielle:
- Como o quê?

Penélope:
- Ah, são tantas coisas...

E bote tantas nisso... Segue abaixo a lista

National Geographic
Animais marinhos desconhecidos
Múmias
Surf
Meus celulares
Meu orkut
Meu facebook
Meu twitter
Meu zune
Andy Irons
Bruce Irons
Hawaii
Meus sapatos
Reggae
Cerveja
Meus estudos
Minha cachorra
Minha mãe
Minha irmã
Minha avó
O resto da família
Meus insetos mortos
Meu namorado.


Penélope

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A mulher não existe (La femme n’existe pas)

"... O maior mistério do mundo é a diferença entre sexos. Talvez o único mistério. Por mais que queiramos, nunca chegaremos lá. Lá onde? Lá onde mora o outro, a diferença.

Há alguns exploradores: veados, sapatões, travestis, escafandros que mergulham nesse mar e voltam de mãos vazias. Nunca saberemos quem é aquele ser com útero, seios, vagina, clitóris, aquele ser maternal, bom, terrível quando contrariado no ponto G de sua alma; e elas também nunca saberão o que é um pênis pendurado, um bigodão, um jogo do Flamengo, um puteiro visitado, nunca saberão do desamparo do macho em sua frágil onipotência ou grossura. Elas jamais saberão como somos.

O amor é a tentativa de pular esse abismo. O amor é a patética falta de recursos de seres querendo ser absolutos, quando não passam de bichos relativos.

De certa forma, a trepada é a tentativa de um encaixe que não acontece nunca, mesmo quando dá certo.

...Lembrando-me de quem amei, vejo que elas queriam ser “descobertas” para elas se conhecerem. Queriam ser decifradas, por mim, pelos homens, por nossas mãos e bocas. Uma grande obediência a elas só as tornava mais raivosas. Muitas vezes, cometi esse erro e dancei. Só perdi mulheres por “bondade” e “compreensão”."


Pornopolítica, Arnaldo Jabor

Gabrielle