Lasciate ogni speranza voi que entrate.

Lasciate ogni speranza voi ch'entrate.

domingo, 18 de dezembro de 2011

"...mas você se importaria de me dizer por que matou essas pessoas?"
"eu não gostava deles."
"mas a gente não sai por aí matando as pessoas, que a gente não gosta."
"eu antipatizava demais com eles."

Charles Bukowski - Notas de Um Velho Safado (pág. 101-102)

Gabrielle

Milan Kundera - A insustentável leveza do ser (A leveza e o peso, parte 2)

(...)Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o que fazia com que Nietzsche dissesse que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos (das schwerste Gewicht).
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza.

Mas, na verdade, será atroz o peso e bela a leveza?
O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos,porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino, o fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem damais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes,

Então, o que escolher? O peso ou a leveza?(...)


Penélope

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Gênio do Mal

Gostavas de tragar o universo inteiro,
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.

Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um gênio formar?

Ó grandeza de lama! Ó ignomínia sem par.

Charles Baudelaire in "As Flores do Mal"

Capitu